XVIII Seminário Internacional de Lutas contra o Neoliberalismo

A Crise Orgânica do Capital,
a Geopolítica de Ruptura da Ordem Unipolar,
e a Relevância Estratégica da América Latina e do Brasil

21 de setembro (presencial) e 19 de outubro (onilne)

Salão Nobre do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da

Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS-UFRJ)

Saudações ao evento

Arlín Alberty Loforte, Vice-Diretora do Jornal Granma de Cuba

Embaixada da República Popular Democrática da Coreia

Ms Catalina Tamyo, Presidenta da Fundación Mayo '68, co-anfitriã do evento

Dr Jairo Estrada, professor de Ciência Política da Universidad Nacional de Colombia

O diretor e professor Silvio Tendler, renomado diretor e produtor de cinema documentário brasileiro

No último dia 21 de setembro, foi realizado o XVIII Seminário Internacional de Lutas Contra o Neoliberalismo, em comemoração aos 33 anos de fundação do Jornal Inverta, 32 anos do início da reimpressão e circulação do Granma Internacional no Brasil e 20 anos que foi assinado o acordo para tradução ao português e comercialização dos serviços da agência latino-americana de notícias Prensa Latina no Brasil. Por representar mais um ano do periódico comunista de maior trajetória ininterrupta em nosso país já deveríamos considerá-lo um evento histórico; porém, o XVIII Seminário foi um marco devido ao conteúdo apresentado ao público e pela participação de figuras ilustres que qualificaram e enriqueceram o debate.

Pela primeira vez, um evento acadêmico brasileiro reuniu representações diplomáticas daqueles países protagonistas na ruptura da atual ordem unipolar de hegemonia dos Estados Unidos, tendo proposto justamente a temática para discutir esta ruptura e o desenvolvimento de uma nova ordem multipolar, de hegemonia multilateral e compartilhada, cujo principal protagonista é o bloco de economias emergentes: o BRICS. Os países, em especial, que se destacam dentro deste são:

(1) a Rússia, cuja superioridade tecnológica-militar demonstrada na guerra contra toda a OTAN na Ucrânia evidencia a ruptura com a hegemonia militar dos EUA;

(2) a China, que há muito ultrapassara os EUA em termos (relativos) de maior crescimento econômico, e este ano passou a ser a primeira economia do mundo, anunciando a ruptura econômica da ordem unipolar;

e (3) o Brasil, candidato dentre os demais membros fundadores do BRICS a protagonizar uma ruptura política com a atual ordem, por ser capaz de apresentar ao mundo uma proposta de desenvolvimento alternativo ao atual capitalismo decadente. Tal candidatura se sustenta em suas qualidades como país historicamente pacífico e mediador de conflitos, isento de armas nucleares; por ser detentor da maior reserva de biodiversidade do mundo; de possuir reservas significativas e ser produtor de recursos estratégicos à transição energética; e por ser a principal economia da América Latina, região que sempre há cumprido um duplo status como base de sustentação de um modo de produção caduco que toma medidas reacionárias para não perecer, e fonte de riqueza que nutre um novo modo de produção nascente, anunciando o futuro.

Estiveram conosco o Vice-Cônsul Geral da República Popular da China no Rio de Janeiro, Exmo Sr Wang Haitao, e o Cônsul da Federação da Rússia no Rio de Janeiro, Exmo Sr Alexander Bagryantiev, ainda que este último não tenha feito uma palestra; a própria conjuntura de guerra e a campanha contra seu país certamente influenciaram esta decisão. Somos gratos pela presença de ambos países, justamente pela preemente conjuntura internacional. Os dois funcionários do Consulado dos Estados Unidos presentes no XVIII Seminário, Jackson Embrey e Ryan Legault – que vieram sem convite oficial mas por “puro interesse particular” – atestam a importância do evento, bem como a correta posição da diplomacia russa perante a nefasta campanha midiática contra seu país, seu povo e seu presidente.

O Exmo Vice-Cônsul Geral da China fez uma palestra brilhante que apresentou ao público a visão chinesa de uma nova ordem multipolar, de hegemonia compatilhada; detalhando sua perspectiva de integração mundial com base no desenvolvimento econômico e social dos povos, no respeito mútuo às nações, suas diferentes culturas e formas de governo, e na sustentabilidade ambiental e econômica. Destacou a importância estratégica da América Latina, em especial do Brasil e suas relações bilaterais com a China, na construção deste futuro compartilhado para a humanidade, em superação à crise histórica – econômica, ambiental e humanitária – que vive o modo de produção capitalista.

Também consideramos um marco a presença, pela primeira vez após as eleições na hermana República Bolivariana da Venezuela, de uma representação oficial do Ministério do Poder Popular para Relações Exteriores a um evento em nosso país. A Exma Ms Betzabeth Alejandra Aldana Vivas, representante do Vice-Ministério para o Hemisfério Norte, teve espaço e voz em um evento público, aberto e internacional, para dar a conhecer a realidade de seu país, desmentindo novamente a campanha burguesa que busca desqualificar a democracia venezuelana, desconhecer a vontade do povo que escolheu Nicolás Maduro para presidente, criar um clima de instabilidade, para fazer uma intervenção violenta na Venezuela e apropriar-se da maior jazida de petróleo do mundo.

A África também esteve presente, fazendo uma denúncia não menos contundente. O Exmo Embaixador Sr Ahamed Mulay Ali Hamadi, representante da Frente Polisário no Brasil, explicou ao público a injusta e cruel situação do povo da República Árabe Saharaui Democrática (RASD), uma nação sem território, mas que está organizada com sua cultura, seu estado, parlamento, defesa e luta pela autodeterminação. Inclusive, o XVIII Seminário aprovou uma Moção de Apoio ao povo do Saara Ocidental, fazendo um chamado ao governo brasileiro que reconheça a RASD, pressione a comunidade internacional para que se faça cumprir os acordos entre esta e Marrocos, respeitando a lei internacional e contribuindo assim com a descolonização da última colônia africana (em pleno século XXI).

Tivemos, como sempre, a honra de contar com a presença de Cuba Socialista, a exceção à regra de violência, submissão e exploração que caracteriza a trajetória histórica dos povos latino-americanos. O Cônsul Geral da República de Cuba em São Paulo, Exmo embaixador Benigno Pérez Fernández, fez uma contribuição clara e objetiva para nossa compreensão sobre a atual conjuntura, muito em linha com a temática central do Seminário e com a perspectiva apresentada pelo representante da República Popular da China, demonstrando que compartilhamos uma visão comum de futuro para a humanidade.

Tanto a professora Ms Samantha Pereira, Coordenadora Geral do Núcleo Nova Iguaçu do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (SEPENI), como o professor Dr Ricardo Lodi, ex-reitor da UERJ e Presidente da Sociedade Brasileira de Direito Tributário (SBDT), fizeram falas repletas de denúncias às falácias neoliberais e seus efeitos violentos, em especial sobre a educação, desde a primeira infância até o nível superior. O Dr Reinaldo Pacheco nos elucidou sobre o papel que deveria cumprir a instituição universitária, seus objetivos e requisitos, muito aquém no caso das universidades elitistas da burguesia nacional, que pouco a pouco vão se pintando de povo. 

Já os professores Dr Eurico Lima de Figueiredo e Dr Vitor de Pieri ofereceram verdadeiras aulas magnas sobre, respectivamente, o desenvolvimento de um projeto nacional para o Brasil desde o início do século XX, incluindo nossa história militar; e sobre categorias e conceitos básicos da geopolítica e sua relevância como propostas concretas para o desenvolvimento nacional.

O Jornal Inverta comemora, portanto, seus 33 anos entre amigos, fazendo o que sempre fez, cumprindo objetivos coerentes com seus princípios fundacionais: romper o cerco midiático da burguesia, ao trazer à tona a verdade que este se dedica a esconder; dar voz aos povos em luta, no Brasil e internacionalmente; e fomentar a unidade dos povos através do conhecimento mútuo e o apoio entre suas lutas, tornando evidente a essência das diversas lutas que encontram na burguesia internacional um inimigo em comum, cujo método de exploração e opressão hoje se expressa no neoliberalismo, que já se demonstrou inútil para remediar os efeitos da Crise Orgânica do Capital e foi repudiado de forma categórica pelos povos do mundo.

Vale destacar que o Seminário Internacional de Lutas contra o Neoliberalismo apresentou, mais uma vez, uma tese revolucionária e original que não apenas nos ajuda a compreender a conjuntura atual, mas indica o caminho para avançar rumo a um futuro melhor para a humanidade. Resultado da continuidade do trabalho coletivo de pesquisa levado a cabo pelo grupo ETEGS do CEPPES cadastrado no Diretório do CNPq, sob liderança do Prof Dr Aluisio Bevilaqua, os novos desdobramentos da tese da Crise Orgânica do Capital que foram apresentados no evento demonstram sua base sólida como categoria concreta que de fato serve para explicar a principal contradição na essência da sociedade capitalista atual, bem como sua eficácia como teoria viva, cujo movimento permite acompanhar e prever o movimento da realidade, permitindo atuar sobre ela.

A tese de fundo foi apresentada neste Seminário pelos membros do grupo de pesquisa em Educação, Trabalho, Economia Global e Sustentabilidade (ETEGS), em quatro palestras distribuídas em três mesas. O professor Dr Bevilaqua apresentou a tese da perspectiva internacional mais ampla, em que testemunhamos o fim da hegemonia estadunidense e a transformação da ordem mundial unipolar para uma nova ordem mundial, vanguardiada pelos BRICS, o bloco de economias emergentes cujos membros fundadores protagonizam feitos históricos que anunciam a alvorada de novos tempos.

Em sua conferência na Mesa 1 – ‘Crise Orgânica do Capital, a ruptura da ordem unipolar e a nova geopolítica’, o Dr Bevilaqua detalhou as contradições do sistema capitalista, as tendências que dominam seu movimento de crise e os motivos que conduzem a seu colpaso; bem como os novos elementos centrais a redefinir as relações internacionais e os desafios geopolíticos na atualidade. Apresentou também os atores no palco geopolítico internacional que já trouxeram à mesa uma nova proposta de hegemonia compartilhada, com base no respeito mútuo entre nações e no desenvolvimento dos povos: o BRICS, por um lado, e a América Latina, por outro.

Já as professoras Ms Julia Bevilaqua e Camila Milani estiveram presentes na Mesa 2 – ‘O papel estratégico da América Latina e do Brasil na nova geopolítica internacional’, e aprofundaram sobre a tese da Crise Orgânica, explicando o protagonimo que o Brasil pode desempenhar na atual conjuntra devido a suas características naturais e históricas, conduzindo todo o continente latino-americano a desempenhar um novo papel como impulsionador de transformações internacionais decisivas para todo o mundo. Apresentaram uma tese que deve orientar o pensamento geopolítico em todo o continente: pensar a reserva de biodiversidade da Amazônia como arma geopolítica, de cujo controle devem se apropriar os povos que a habitam para desenvolver uma estrutura de unidade e integridade regional, baseada no respeito mútuo, no desenvolvimento econômico e social da região, que considere defender nossas riquezas e superar nossas heranças colonial, fascista, de desigualdade e exploração.

Por fim, na Mesa 3 – ‘O Brasil, os movimentos sociais e a luta contra o neoliberalismo na nova geopolítica mundial’, o Dr Michel Damasceno, presidente do Congresso Nacional de Lutas Contra o Neoliberalismo, destacou justamente as características do Brasil que o tornam candidato dentre os membros do BRICS a desempenhar este papel protagônico em uma conjuntura de transição, vinculando esta perspectiva mais ampla ao novo papel que a classe trabalhadora passa a desempenhar como desdobramento dos efeitos da Crise Orgânica do Capital. Ao denunciar a hipocrisia dos países do capitalismo central que lançam à miséria e violência milhões de crianças, homens e mulheres em todo o mundo, foi além e explicou que a burguesia enfrenta uma crise do próprio valor, a relação sobre a qual se estruturam todas as demais relações sociais no modo de produção capitalista, e que portanto está fadada a (e fardada para) tomar medidas cada vez mais desesperadas e violentas para tentar manter sua razão de ser: a acumulação de mais-valor roubado dos trabalhadores. Esta última mesa de debates, como não poderia deixar de ser, teve em sua conclusão palavras de ordem encampadas e repetidas entusiasticamente pelo público e pelos membros da mesa.

Como todo ano, o Inverta fez o devido reconhecimento àqueles trabalhadores, militantes e amigos cuja dedicação torna possível o caminhar. Em 2024, foram homenageados com a Comenda Imprescindível do Jornal Inverta o professor Victor Barrionuevo, Secretário de Relações Internacionais do Congresso Nacional de Lutas Contra o Neoliberalismo, que lutou contra a ditadura na Argentina, veio ao Brasil e continuou lutando, trazendo seus filhos para a luta também; o Dr Célio de Castro, imprescindível para as conquistas do Movimento de Luta Pela Moradia em Minas Gerais na década de 1990; e a professora Ms Julia Bevilaqua, fruto dos cursos e estudos promovidos pelo Inverta e o ETEGS, uma das companheiras que mais avançou na compreensão e divulgação das nossas teses.

Fechando com chave de ouro, os presentes puderam desfrutar de duas poesias apresentadas pelo operário da arte Idioraci Santos: ‘Saudade’ de Pablo Neruda e ‘Pesadelo’ de Maurício Tapajós, cujo conteúdo, como explicou o próprio poeta e intérprete, tem tudo a ver com as reflexões despertas pelos debates do dia. Também tivemos o privilégio de desfrutar da obra original ‘Os Josés’ da Companhia de Teatro EnParte, com grande elenco que interpretou musicalmente o poema ‘José’ de Carlos Drummond de Andrade, cantado à capela; seguida de outra emocionante interpretação de ‘A Rosa de Hiroshima’ de Vinícius de Moraes, acompanhada no violão. 

Tanto a poesia como ambas obras de teatro – a primeira publicada por Drummond em 1942, ano em que o Brasil declara guerra aos países do Eixo e perde suas inocentes esperanças de permanecer neutro perante a brutal realidade da II Guerra Mundial, e a segunda como desabafo sentido e incapaz perante a crueldade e irresponsabildiade estadunidense ao lançar as bombas atômicas sobre o Japão ao final da II Guerra – revestem significado muito mais profundo para o público que havia passado o dia refletindo sobre os efeitos nefastos da Crise Orgânica do Capital, cuja primeira grande expressão foi a Crise Geral do capitalismo de 1929 que, por sua vez, conduziu à II Guerra Mundial.

Não bastasse o feito por si admirável de um coletivo de trabalhadores e pensadores organizados em torno de um jornal independente – sem financiamento público ou institucional, sem agência de fomento nem parlamentar a seu dispor – realizar um evento cujo conteúdo e forma foram marcantes para o pensamento crítico de nosso continente (com tradução simultânea para permitir que o público compreendesse todas contribuições), o XVIII Seminário colocou à prova a capacidade de organização deste coletivo resoluto em seu objetivo de transformar a realidade. O evento que estava originalmente planejado para ocorrer dias 20 e 21 na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), recebeu a notícia de que a Reitoria da UERJ encerrara todo expediente no campus através de Decreto Oficial publicado dia 19 de setembro. Em menos de 24 horas, a Comissão de Organização do evento conseguiu mudar de tática e realizar, em novo local com nova programação, um evento histórico. Segundo Lenin nos ensinou em ‘O quê fazer?’, somente uma organização sistemática, dedicada ao trabalho diuturno e em constante preparo para a luta pode levar a cabo uma mudança de tática em 24 horas; uma organização que tem um órgão central que funge como os andaimes de uma construção futura, como cérebro coletivo, como organizador coletivo.

Viva os 33 anos do Jornal Inverta!

Viva o XVIII Seminário Internacional de Lutas Contra o Neoliberalismo!

Ousar Lutar, Ousar Vencer, Venceremos!

Galeria de Imagens do XVIII Seminário

Realização do XVIII Seminário

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